Páginas

Pensamentos soltos sobre a pressa


Quando eu era pequeno, gostava de ir nas panelas quando minha mãe ou outra pessoa estavam cozinhando e  pegar um pouco do arroz antes de ele estar cozido. Também gostava de comer feijão-verde cru. Gostava de frutas e legumes antes de amadurecerem. Lembro que subia no pé de seriguela da casa da vovó e pegava um monte delas verdiiiinhas (o mesmo com os pés de manga), fazia um "molho" com vinagre, sal e pimenta do reino, e comia até os dentes ficarem irritados.

Sempre me deliciava com as músicas antes que elas chegassem na metade.

Sempre fui o mais veloz na caminhada com qualquer pessoa na qual já caminhei.
Tava aqui pensando com os meus botões em como me casei no primeiro mês de namoro. Tá que foi um lance meio que compulsório, mas haviam outras alternativas. Só que assim como eu sempre me deliciei mais com as frutas verdinhas, a pressa não foi diferente nesse momento.
Quando separamos, também fui o primeiro a "ostentar" um novo namoro, pasme, com nem 4 meses de separados eu já estava loucamente apaixonado de novo.
Não todas as vezes, mas frequentemente, nos meus 450 namoros, fui eu o apressadinho com as mãos, com os sentimentos e com os pedidos de namoro. Com tanta pressa, acho que explica-se o fato de também ser o primeiro a decidir quando não ia tudo bem, como eu queria, e claro, o primeiro a terminá-los.
Na minha trajetória fui o primeiro de todos os amigos a ir embora de cidade.
Na turma da faculdade fui o primeiro a ter um bom emprego, que a galera toda gostaria de ter.
No trabalho, o mais rápido. Para ir trabalhar, banhos de cinco minutos mais três para se vestir.
Tanta pressa em tudo para quê? Minha inquietação era tanta que eu me vi aproveitando tudo muito pouco, passava tudo rápido demais. Era sempre o primeiro a sofrer, muitas vezes até por antecipação.
Hoje notei como eu venho ficado mais lerdo, mais paciente, mais conformado, me sinto mais feliz. Não me vejo mais buscando desesperadamente um amor, nem me vejo correndo sem freios para dirigir, nem para trabalhar. Notei que agora também não tenho pressa para falar e muitas vezes a inquietude até me atrapalha de escutar, mas me tornei bem mais observador.
Será que amadurecer é reduzir o passo? Todo mundo é apressado assim mesmo ou eu sou o único?
Nos últimos tempos venho escutando com frequência que sou muito fechado e que praticamente não menciono o que sinto, mas me sinto bem mais leve, bem mais tranquilo.
Até tomei um banho de sessenta minutos esses dias. :O Tenho tentado aproveitar muito mais as coisas antes de "tagueá-las". Tenho corrido pouco. Notei que escapei de muitas ciladas. Alguns dias a mais e tudo fica muito mais claro pra mim. Devagar, sempre devagar, consigo quase enxergar as coisas que acontecem comigo e ao meu redor como um mero expectador quieto e privilegiado. Como é bom!
Troquei o carro pela bike, carro que foi comprado para reduzir o tempo dos percursos (e que acabava aumentando mais, por causa do trânsito louco), e, agora sigo devagar para qualquer lugar, quase nem marco mais horas exatas para os compromissos, adianto sempre de dez a vinte minutos de atraso. Sempre tenho que procurar no google o número dos telefones dos condomínios ou prédios comerciais para saber se eles têm bicicletário.
Como as frutas mais maduras são mais gostosas (exceto o tomate. Esse vai ser eternamente melhor enquanto verdinho).
Corra menos, deguste mais, pare de apenas olhar, enxergue!

Caminhos pedalados em 3 meses

Faz três meses desde o dia em que eu decidi vender o meu carro. Eu não estava muito em condições de acumular despesas que pudessem ser substituídas por gastos menores. Vendi o carro. Com R$ 200,00 eu comprei uma bicicleta usada que pertenceu a uns grandes amigos que foram embora do Brasil, que venderam para um outro amigo, que não a utilizava. Ela chegou às minhas mãos por esse precinho.

Os primeiros dias foram difíceis. Antes, nem mesmo ao supermercado, que fica a 300 metros de casa, eu ia sem o carro. Tente imaginar o tamanho da dificuldade que foi pegar a bicicleta para dar o primeiro rolê. Peguei-a. O primeiro dia foi beeem foda, depois de algumas poucas centenas de metros, da cintura para baixo, eu era formado apenas por dores. 


Depois de alguns dias com dores na adaptação, veio o melhor: o costume. Eu já não estava mais tão focado no ato de pedalar, já podia olhar para os lados e sentir o que tinha ao meu redor: prédios, árvores, jardins, gramados, matagais, gente, olhares, vidas, rostos curiosos, animais. Tinha a vida ali, todinha à minha disposição. Para eu olhar, gostar, fotografar, filmar, guardar, olhar de novo no dia seguinte, analisar, sentir, medir, pedir, sorrir e tudo mais.


Em um desses dias, o Wilton, conterrâneo conhecido, comentou em uma das minhas fotos, que passei a fazer diariamente dos meus "Caminhos de casa" e "Caminhos do trabalho":  "Quero ir caminhado para tua casa um dia."  


Wilton, esse post é para você, também para outros amigos que queiram belezas nos caminhos de suas casas e trabalhos, é para todo mundo que vive estressado dentro de um carro (buzinando que nem loucos e gritando estéricos com qualquer vacilo dos outros no transito), escravos de uma rotina engarrafada, escravos de longas horas de espera entre o curto caminho dos seus trabalhos e suas casas: Os 5 quilômetros entre minha casa e trabalho, antes consumidores de 1 hora para ir e 1 hora para voltar, se transformaram em 15 minutos, com direito a pausas para fotos do que tiver de bonito no caminho.


Reuni nesse post, uma pequena coletânea das fotos que fiz nos "Caminhos de casa" e "Caminhos do trabalho". Quero começar por duas fotos em especial: as fotos que fiz em um dos dias que me deu preguiça de ir trabalhar de bicicleta e eu cedi à tentação. Veja:



















































Algo belo?


Agora as fotos dos dias que fiquei firme na ideia de ir de bicicleta para qualquer lugar que eu precisasse e quisesse:


















































Por que hoje lembrei que eu tinha um blog. Acabei instigado a voltar aqui e escrever.

Sobre dormir junto
Sobre pés
Sobre micro gemidos
Sobre sono
Sobre cabelos
Sobre boca
Sobre olhos
Sobre beijos
Sobre pés de novo

É bom. Muito bom.

Come on!

Baby, if your parents just don't wanna enjoy the chance to live with a man like you, just because you're gay, get over it and listen, I'm so fucking crazy waiting for this chance. Come on? Kisses

pior

pior que eu acho que você é um daqueles amores que vai acabar com a minha raça, com o meu coração, com tudo.

fumaça de vela. e de cigarro.


pela janela passa um boêmio, que dois passos dá e um espirro. Debaixo de uma luz amarela ele amarga algum pesadelo, seja o de um amor que se foi, seja o de andar sozinho por esse beco sem dono, sem regras, sem leis.

numa breve pausa que seus espirros dão, ele olha para cima a procura desse mozart que ecoa pelo beco, em volume máximo. O que será que fez ele olhar a procura dessa música? Poucos bebados passarão por esse beco. Esse com certeza sofre, uma hora da manhã não é hora de ninguém vagar bêbado por um beco.


ele não sabe que vem dessa janela, não dessa exatamente pois 20 outras estão ao alcance dos seus ouvidos, dos seus olhos. Essa não se destaca das outras, está escura. As luzes das velas não ultrapassam as bordas das janelas.



e agora gira, de braços abertos, cansado de tentar descobrir de onde vem essa rapsódia, prefere agora aproveitá-la, somada ao seu fardo, com os braços abertos ele gira, numa mão uma garrafa de bebida, na outra o ar que se esfrega na sua mão vazia. Ele aproveita a rapsódia.


e assim que a música acaba ele se vai, e mais alguém fica sozinho. De novo. Ele foi. A poesia ficou.

Sobre Marauê, Piauí e Piauienses

Nasci em Teresina, nos anos 80. Gostaria de registrar isso em primeiro lugar, pra que não digam meus leitores que eu não falo com direitos legítimos e garantidos.
A poucos dias, Marauê Carneiro, Ator que estava com uma peça em cartaz no Piauí, postou no seu facebook sua opinião a respeito do Piauí. Segundo ele, o Piauí é do mundo o cu, se o mundo o tiver. Centenas de piauienses ofendidos com a opinião dele, resolveram empreender uma campanha no twitter contra Marauê.
Quem nunca foi a um lugar e não gostou, e comentou com um amigo, sem calcular o que as pessoas que amam aquele lugar iriam sentir? Não estou defendendo o Marauê, entendam isso. Defendo aqui a liberdade de expressão. E claro, todos os piauienses tem essa liberdade garantida para expressar-se contra Marauê. O que achei errado e muito, foi a atitude do Deputado Fabio Novo de cancelar a apresentação da peça na Câmara Legislativa. Marauê não era o único integrante da peça, outras muitas pessoas também fazem parte do processo teatral e foram prejudicadas com a decisão do deputado.
Não é a primeira vez que acontece essa revolta toda no meu estado contra alguém que não tenha gostado dele.
A dois anos, mudei-me para Brasília, a capital do nosso país. Não quero fazer comparações entre o Piauí e Brasília, quero apenas apresentar aos meus conterrâneos outra realidade, uma realidade muito diferente à realidade que vivemos no Piauí.

o pequeno principe




E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.

E eu não tenho necessidade de ti.

E tu não tens necessidade de mim.

Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo... Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.

E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"